segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Eu Sou Deus - Faces

Queridos, 

Nesse segundo dia resolvi me dedicar a aprofundar um pouco mais na personagem principal do nosso livro: Deus. Ou Ninguém, como o titulam, algumas vezes.

Dos livros que já li, talvez tenha sido o homem desse livro o que mais me impressionou. Por assumir várias máscaras, várias faces, fica difícil direcionar nosso sentimento em um só. Uma coisa, porém, existe em todas elas: a fé. Seja pelo sagrado, pela necessidade, pela vingança, pelo amor ou pelo ódio.

Essa personagem esconde marcas e segredos de uma dor sem fim, a qual nasceu na Guerra do Vietnã e continua corrompendo todos aqueles que dela participaram. Seus rastros não são apagados nem mesmo com o tempo. Na verdade, a história acontece pelo contrário do comum; à medida que o tempo passa, os sentimentos aumentam.

"Involuntariamente, o tom daquele “não, senhor” o denunciou definitivamente.
- É militar?Sua expressão pareceu uma confirmação mais que suficiente. A palavra Vietnã não fora pronunciada, mas flutuava no ar.- Loteria?Sacudiu a cabeça.- Voluntário."

"O rapaz que fora um soldado olhou-o por um instante em silêncio.
                                                              Os aviões virão de lá...
                                               Depois disse seu nome.
                            O xerife arregalou os olhos.

- Não é possível. Você está morto.

Acendeu o isqueiro. Os olhos aterrorizados dos dois homens estavam fixos na chama. Sorriu e apenas por essa vez ficou contente de que seu sorriso fosse uma careta.
- Não, filhos da puta. Vocês estão mortos.
Com um gesto teatral, abriu a mão mais que o necessário e deixou o Zippo cair no chão."


Um sofrimento alimentado erroneamente, a partir de uma outra face que se descobre. Um rosto triste e humano. Tão humano que também ele tem, ou pelo menos tinha, algumas esperanças alimentadas no peito.

"Não haveria braços abertos, palavras de glória nem fanfarras para a chegada do herói. Ninguém nunca o definiria assim e, de todo modo, para todos o herói estava morto."


Dá para perceber, a partir dessas duas passagens, o quanto uma escolha pode nos trazer consequências inesperadas e irreparáveis. A vontade se transformou em remorso, até que, em certo momento, chega ao ódio:

"Estive lá. E, diante daquele monumento, entendi uma coisa.
Fez uma pausa, como se buscasse as palavras capazes de sintetizar seu pensamento.
- As guerras acabam. O ódio dura para sempre."

Esse ódio é tanto que, de certa forma, na verdade, ele vai sendo tão alimentado até que seja transformado em orgulho, em satisfação. Como se aquilo fosse uma forma de cumprir um dever, uma promessa.

"Pensou que talvez aquele fosse seu verdadeiro talento. Tinha certeza de que, quando tudo aquilo chegasse ao fim, encontraria uma forma de contar ao mundo uma grande história.
A sua grande história."


E quando tudo chega ao fim esperado por aquele "Deus", descobre-se que a máscara que ele estampava era confusa, triste e compreensível.

"Foi terrível saber o que havia por trás de seu olhar, descobrir tudo o que foi capaz de fazer e como o mal consegue alcançar lugares que deveriam estar fechados para ele."

Por fim, um rosto tão deformado pelas máscaras que assume é involuntariamente definido e generalizado por uma outra personagem. Essa, sim, cheia de esperança, gratidão e força de reparação:

"Um nome não significa uma pessoa, pensou.
Havia muitos nomes por aí, gravados em túmulos com cruzes brancos, todos em fila com uma precisão de relojoeiro. Isso não mudava nada. De nada serviria para trazer aqueles rapazes de volta à vida, para tirar de seus peitos sem respiração o número que traziam escrito como uma medalha em honra das guerras perdidas. Ele continuaria a ser, sempre e somente, mais um entre muitos. Conheceu muitos como ele: soldados que se moviam e riam e fumavam baseados e usavam heroína para esquecer que tinham a retícula de uma mira desenhada para sempre no peito. A única diferença entre eles era o fato de que ele ainda estava vivo, embora na prática se sentisse sob uma daquelas cruzes. Ainda estava vivo. Mas o preço que pagara por essa diferença irrelevante foi um salto no vazio grotesco da obscuridade." 


Camila.




domingo, 28 de outubro de 2012

LIVRO DA SEMANA - Eu Sou Deus

Olá!!

Bom pessoal, não apareço aqui há quase nove meses! É um absurdo, eu sei, mas depois que a faculdade começou ficou tudo corrido e eu acabei deixando o blog um pouco de lado, mas senti MUITA falta! O que importa é que estou de volta.

Eu já tinha falado pra vocês sobre o "Eu Sou Deus" e era tanta coisa que só consegui acabar de ler na semana passada. Eu amei cada segundo dele! Já sabemos como o Giorgio Faletti é gênio em fazer os leitores se prenderem muito na leitura. 

Nesse segundo livro (que não é continuação do "Eu Mato" mas segue a mesma linha), os crimes são indiretamente cometidos e não tão bárbaros como no primeiro. A ferida que causa todos os motivos das mortes é muito mais profunda do que conseguimos imaginar. 

Para começar, quero apresentar as primeiras páginas do livro. Posso dizer que já de início tudo está "à flor da pele", e adianto que até as trinta últimas páginas a tensão não tem fim.

Espero que gostem.

"Esse é o meu poder.
Esse é o meu dever.
Esse é o meu querer. 
Eu sou Deus."

"Seu rosto de agora, seu rosto de outrora. Duas figuras diversas, a trágica magia de uma transformação, duas peças que em seu percurso marcaram o início e o fim daquele longo jogo de sociedade que fora a guerra. Muita gente o tinha jogado, gente demais. Alguns pararam por uma rodada; outros, para sempre. Ninguém venceu. Ninguém."

"- Acha que está pronto?
  Não!, Gostaria de gritar.  Não estou pronto, assim como não estava quando tudo isso começou. Não estou pronto agora e não estarei nunca. Não depois de ter visto o que vi e de ter vivido o que vivi; não depois de meu corpo e meu rosto...
- Estou pronto."

Camila.